Etapas e desafios na distribuição da vacina da covid-19, por Marsh Brasil
Matérias 15 de dezembro de 2020Enquanto a pandemia de covid-19 continua afetando a todos
nós, a chegada iminente da vacina abre novos horizontes. Governos de todo o
mundo já compraram ou estão comprando milhões de doses para sua população,
considerando 20-25% em um primeiro estágio.
No entanto, é uma realidade que a América Latina terá que
fazer um esforço imenso para articular uma distribuição massiva de vacinas e
poder chegar a hospitais, centros de saúde e, sobretudo, à população
vulnerável, a primeira a ser vacinada. De fato, países como o Reino Unido, que
já iniciou a distribuição dos testes, reconheceram o grande desafio que esta
logística acarreta, tendo que alterar os seus objetivos iniciais e descartando
que as casas de repouso sejam as primeiras a receber tratamento.
Diante deste panorama, a Marsh, líder global em consultoria
de riscos e corretagem de seguros, está promovendo a colaboração entre governos
e setor privado, para seguir protegendo a vida e a saúde da população,
avaliando e gerenciando com urgência os complexos riscos logísticos, técnicos e
de segurança que a distribuição da vacina acarretará.
Na América Latina, devemos ter a capacidade de aplicar
vacinas à população mais vulnerável e a equipe de primeiro atendimento até o
final do primeiro trimestre de 2021, com a segunda dose exigida ao final do
terceiro trimestre. No período intermediário, a vacinação gradual de outros
grupos deve continuar, até atingir entre 40 e 50% da população. Para uma
população de aproximadamente 637 milhões de pessoas na região, estaríamos
considerando pelo menos, no cenário mais conservador, entre 250 a 300 milhões
de doses aplicadas em uma primeira fase, o que implica um grande esforço
logístico em uma escala nunca antes vista.
Uma arquitetura de segurança e logística sem precedentes
A vacina da covid-19 requer pelo menos duas doses, devendo
ser reforçada após 6 meses. Na maioria das vezes, a vida útil das vacinas é de
menos de 10 dias, desde a sua produção até a aplicação. A isto acrescentamos
que deve chegar a cada local, por mais remoto que seja, mantendo a cadeia de
frio extremo (entre -20º C e -70º C), temperatura que normalmente está fora da
faixa de produtos que requerem refrigeração, o que aumenta o desafio de uma
distribuição adequada.
Os governos, em um sentido de urgência, estão focados na
compra da vacina, mas ainda não estão construindo ou reforçando a
"arquitetura" necessária para conseguir uma distribuição eficaz e
segura para toda a população. Os riscos são altos e a escala é muito grande.
Nunca enfrentamos uma logística desse tipo e, quanto mais demorarmos para
sermos claros sobre as soluções, mais incerta será a recuperação.
Quem protege a vacina? Os riscos da logística massiva
A indústria farmacêutica foi pioneira em muitas áreas de
gerenciamento de risco. Ela possui sistemas sólidos de gestão e transferência
de riscos. O que difere nessa situação é o volume, a velocidade, a distância e
condições de mobilização da vacina.
Longa distância: do fabricante ao armazenamento em um
centro nacional
- No caso de remessas internacionais, isso provavelmente será
realizado através transporte aéreo em grande escala: as vacinas podem ser
entregues em questão de horas.
- A distância não deve ser um problema: as grandes empresas
farmacêuticas já possuem processos existentes, cadeias de suprimentos,
contratos e seguros.
- O desafio é o volume, a velocidade e o transporte frio.
- Embora o transporte de material biológico a baixa
temperatura seja comum, o esforço para transportar grandes quantidades envolve
mais aeronaves, o que nas condições atuais do setor aéreo, implica reconversão
de equipamentos e outras opções, já que terá um papel fundamental na entrega de
vacinas em todo o mundo.
Curta distância: do transporte aéreo ao armazenamento de
distribuição e transporte regional
- Um dos desafios mais importantes são os pontos de
transferência, onde são feitas as trocas de meio de transporte e / ou onde as
vacinas são divididas em lotes menores prontos para o transporte local, pois
gera risco de danos ou comprometimento do lote de vacinas.
- Esses armazenamentos temporários, que podem envolver
levantamento / abaixamento de mercadorias verticalmente, apresentam mais risco
de perda ou dano físico do que transportá-los por centenas de quilômetros.
- Um determinante crítico de toda a operação é a tolerância
mínima às mudanças de temperatura que as vacinas apresentam, o que requer
atenção especial quando os carregamentos devem ser divididos para distribuição.
Último quilômetro: distribuição e entrega na instalação
local
- Os problemas variam muito, 30 quilômetros em um 4x4 em
estrada de terra, não é a mesma coisa que 300 quilômetros em uma rodovia, as
distâncias variáveis e o mau tempo também podem dificultar a entrega, então o
equipamento de transporte deve ser especial e adaptado para garantir as
condições das vacinas.
- A vacina é ouro, será o bem mais precioso, com o qual o
risco de segurança, principalmente na América Latina, será muito significativo.
Quilômetro zero: ponto de vacinação
- Encontrar locais adequados para administrar a vacina em
grande escala (centros esportivos ou comunitários), juntamente com instalações
médicas tradicionais (hospitais, centros de saúde)
- Um número significativo de pessoas precisa da vacina em um
curto tempo, manter as medidas de biossegurança será um desafio, as longas
filas com distanciamento social não serão uma opção.
- O treinamento para administrar a vacina será desafiador (por
exemplo, militares, trabalhadores médicos aposentados, estudantes de medicina,
voluntários, etc.).
- Certificar que os protocolos clínicos estão em vigor e são seguidos,
ter tolerância zero a erro de dose e outros.
- Minimizar o risco de contaminação e infecção cruzada.
- Manutenção de registros impecáveis, com monitoramento rigoroso de quem foi vacinado e identificação clara por dose. A segunda dose apresenta mais desafios em termos de gestão do que a primeira, pois deve ser administrada em um tempo determinado e especificamente para cada pessoa.