Tenho refletido a respeito das gigantescas transformações que estão surgindo em nossas vidas, considerando este novo mundo VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity): Para que mundo queremos desenvolver os líderes da nova geração? Nesse contexto, precisamos estar muito sintonizados, conectados, abertos para as mudanças e desfrutando das ferramentas que a tecnologia nos oferece para podermos ser cada vez mais humanos e éticos.
É um novo mundo, que desacomoda o establishment. As corporações estão perdendo protagonismo, e os governos se veem forçados a lidar com uma sociedade globalizada e hiperconectada, na qual o indivíduo tem cada vez mais voz. Transparência, controle social e uma nova percepção de reputação são fatores determinantes de uma emergente dinâmica social.
Nos últimos 10 anos, acompanhei de perto significativos investimentos sociais e culturais baseados em um mindset que, hoje, parece-me em vias de ser superado. Nesse período, acreditamos que o Investimento Social Privado estratégico seria capaz de desenvolver modelos e tecnologias sociais replicáveis e capazes de transformar realidades, para sanar algumas questões sociais. Já havíamos percebido que apenas a assistência social oferecida pelos filantropos da geração anterior não seria capaz de gerar progressos perante tantos desafios. Percebemos, também, que nosso papel como financiadores do Terceiro Setor para fomentar uma sociedade civil forte e independente é decisivo, mas todos estes recursos e esforços se tornam pouco relevantes diante das inúmeras demandas sociais do nosso pais. Ao longo da última década, constamos que o Investimento Social Privado focado em atendimento direto ao público é como enxugar gelo. Talvez nossa melhor contribuição seja buscar efetividade, garantir a implementação de políticas públicas e, ainda, articular e fortalecer a sociedade civil para exercer o seu papel.
Mas a verdade é que precisamos ser muito mais disruptivos para obtermos alguns avanços sociais significativos. Uma boa notícia é que a nova geração já vem com este “chip social” e está pronta para a disrupção: temos exemplos de jovens de grandes famílias empresárias que acreditam e optam por Investimentos de Impacto. São investimentos em startups que têm como objetivo central gerar impacto social ou ambiental e, para isso, estabelecem retorno com uma lógica diferente do padrão dos negócios tradicionais. Muitos desses jovens iniciam sua atuação com algum recurso filantrópico e buscam o seu retorno como investidor depois de o negócio se tornar sustentável.
É interessante observar que estamos vendo o surgimento de um novo perfil de líder: fiel ao seu propósito, com preferência por evoluir aprendendo com a própria experiência, habituado a múltiplas interações em um contexto menos hierárquico, com colaboração e construção coletiva. Sobretudo, com desejo de levar a vida de maneira mais integrada, com tênues limites entre o pessoal e a realização profissional.
Uma reflexão importante é como a nossa geração pode apoiar esse novo líder, que precisa se desenvolver em meio às incertezas da contemporaneidade. Talvez o mais importante é que ele tenha aprendido a aprender e esteja preparado para enfrentar mudanças, sejam elas quais forem. Encorajar o protagonismo jovem fora do negócio e do ambiente protegido da família, dando oportunidade para enxergar outras realidades, contribui para a aquisição de um repertório diversificado de vivências e estimula a reflexão a partir das próprias atitudes. Incentivar e cuidar para que essa fase da vida seja uma jornada rica em aprendizados, com equilíbrio e conexão com os valores familiares, pode ser a nossa melhor contribuição para a geração que começa a construir o futuro.
Vamos apoiá-los!
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